Vinicius Monteiro
Os Fabelmans Crítica
Esse texto pode conter possíveis SPOILERS.
Sinopse: O filme de Steven Spielberg é baseado nas memórias da infância do próprio cineasta, mais especificamente em um garoto vivendo no Arizona. O jovem Sammy Fabelman, se apaixona por filmes depois que seus pais o levam para ver 'O Maior Espetáculo da Terra', do lendário diretor Cecil B. DeMille. Armado com uma câmera, Sammy começa a fazer seus próprios filmes em casa, para o deleite de sua mãe solidária.
Crítica: Steven Spielberg é um contador de histórias nato, e esse filme é sem dúvida sua história mais preciosa. O longa-metragem é um convite de entrada para a casa e para a cabeça do diretor, talvez o mais amado do mundo. A obra é uma zona estranhamente higienizada onde até mesmo o antissemitismo, problemas financeiros e divórcio, parecem ir muito bem com uma pipoca com manteiga.
Se você cresceu com os filmes de Spielberg, certamente observou alguns temas recorrentes em seus trabalhos, especialmente na maneira como os pais se relacionam com os filhos. Seja um pai emocionalmente distante deixando sua família desmoronar ou um Peter Pan adulto lutando por seus filhos, esses laços claramente importam nos trabalhos do diretor, porque as mesmas conexões quebradas da ficção foram a sua realidade também.
Que divertido deve ter sido para o diretor encenar seus primeiros experimentos na câmera, desde embrulhar suas irmãs em papel higiênico para um filme de múmia, até o filme de guerra de 40 minutos que o escoteiro fez com seus amigos, pois para o público 'Os Fabelmans' também pode ser divertido. Trazer uma ótica cinematográfica para um olhar inocente de uma criança, mostra não só um personagem infantil brincando, mas traz também um certo sentimento de nostalgia para o público que acompanha a história.
Mas nem tudo são flores, nem para Steven Spielberg. O filme dá uma guinada para o sério quando Sammy (Gabriel LaBelle) faz uma descoberta alarmante entre as filmagens que ele fez de um acampamento em família. O dilema moral surge em simultâneo, em que o tio-avô de Sam, Boris (Judd Hirsch), aparece para dar uma palestra estimulante sobre como arte e família não se misturam. A próxima coisa que sabemos é que os Fabelmans estão se mudando novamente, abandonando o tio Bennie (Seth Rogen) no Arizona, apenas para se reconectar com a rabugenta avó Hadassah (Jeannie Berlin) quando chegam à Califórnia. Temos um vislumbre da vida de Sammy no colégio, e como qualquer garoto estadunidense, teve seus normais problemas de adolescente.
O filme se desenrola em uma divagação episódica, mas é construído com mais cuidado do que muitos filmes de memórias, que simplesmente vagam pela vida do personagem. Humor, tristeza e esperança dançam um ao redor do outro enquanto esta família não para de tagarelar. 'Os Fabelmans' é épico em duração, mas a escala permanece íntima, com a maior parte da ação ocorrendo no espaço doméstico dessa família, mas a obra cinematográfica traz uma atmosfera de poucas novidades.
Embora 'Os Fabelmans' possa parecer familiar, também pinta um retrato de família atraente, doce e às vezes comovente. As atuações de todo o elenco são fantásticas, com o novato Gabriel LaBelle mostrando uma profundidade e habilidade impressionantes como o adolescente Sammy. Paul Dano e Michelle Williams estão bem escalados. Williams é especialmente uma força da natureza aqui, enquanto Dano é doloroso e frustrante, por sua vez, como um pai gentil, porém teimoso.
Apesar de todo o foco no espaço íntimo da vida doméstica, este filme termina com o seu protagonista pronto para um mundo maior. Depois de um encontro com uma lenda de Hollywood, esse prodígio caminha sozinho pelos fundos vazios de um estúdio, pensando animadamente no filme que fará a seguir. A última cena termina com uma pequena piada cinematográfica, uma mudança divertida de perspectiva.
Há uma sensação de que Steven Spielberg está escondendo os fatos de sua própria vida por trás de famílias fictícias. 'Os Fabelmans' tem uma mistura de real com o ficcional, que parece não se misturar muito bem, mas é um filme espirituoso e agradável sobre uma vida normal e um pouco sobre o cinema.
Nota: 8
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