Vinicius Monteiro
Estrelas Além do Tempo Crítica
Atualizado: 27 de mar.
Esse texto pode conter possíveis SPOILERS.
Sinopse: Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputam a supremacia na corrida espacial ao mesmo tempo em que a sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial, entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na NASA, onde um grupo de funcionárias negras são obrigadas a trabalharem à parte. É lá que estão Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), grandes amigas que, além de provar sua competência dia após dia, precisam lidar com o preconceito arraigado para que consigam ascender na hierarquia da NASA.
Crítica: Nos últimos anos, tornou-se uma tendência na ciência pop e na literatura histórica revisitar eventos bem conhecidos da perspectiva dos tipos de pessoas geralmente esquecidas. O livro de mesmo nome no qual "Estrelas Além do Tempo" se baseia, é um deles. Admiravelmente, o filme procura corrigir esse desequilíbrio. Infelizmente, ele faz isso por meio do mesmo quadro usado em todos os filmes biográficos e históricos que o precedem.
A cinematografia habilidosa de Mandy Walker, que traz um filme em celulóide para manter a sensibilidade retro do filme. Temos uma trilha sonora edificante de Hans Zimmer e um punhado de canções originais animadas e cativantes de Pharrell Williams. A figurinista Renee Ehrlich Kalfus define os personagens com a moda da época, acentuando a vibração feminina com vestidos em tons e estampas ricas, um contraste marcante com as camisas brancas, gravatas pretas e paredes cinza do Grupo de Tarefa Espacial. As superfícies polidas do filme não disfarçam que ficamos com uma narrativa antiquada sem riscos criativos.
A história segue o mesmo arco de qualquer filme de “minorias conquistando adversidades”, com um ciclo estranhamente reconfortante de obstáculos preconceituosos sendo erguidos apenas para serem contornados no tempo devido. O mais preocupante é que "Estrelas Além do Tempo" trabalha com as mesmas premissas de outros filmes sobre o assunto: que era vital que os Estados Unidos "derrotassem" a União Soviética na corrida espacial, que "vencer" os russos significaria de alguma forma uma catástrofe para a humanidade.
O roteiro, com diálogos arrastados, não tem muito a oferecer além do básico. Como acontece inevitavelmente quando um filme de ficção é baseado em um livro de não ficção, os eventos foram encurtados e liberdades dramáticas tomadas. Com muita frequência o roteiro está ocupado canalizando seu senso de história em um diálogo autoconsciente que soa mais como um comentário anacrônico do que como gente falando.
Algumas peças do elenco são infelizes: Jim Parsons tem uma atuação plana como o fictício Paul Stafford, engenheiro-chefe da NASA, e Glen Powell é muito jovem para interpretar John Glenn, que parece um garoto de fraternidade entusiasta. Kevin Costner, por outro lado, traz um humor seco e um pouco necessário para outro papel fictício, o do gerente da NASA Al Harrison. Nem preciso falar sobre o trio Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe, que com a limitações do filme, fazem magia com suas atuações.
"Estrelas Além do Tempo" faz uma homenagem sincera a mulheres notáveis que quebraram as barreiras de cor e gênero fora dos holofotes, sem manchetes proclamando suas realizações. Por mais agradável e divertido que seja, "Estrelas Além do Tempo" deveria ser um documentário aprofundado sobre essas mulheres. O filme é uma isca para enormes bilheterias cheio de clichês.
Nota: 6
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